Na vida, muitas vezes, os sentimentos se confundem, passa-se do
amor ao ódio num segundo, pois o amor e o ódio são irmãos, as duas faces da
mesma moeda. O ódio é o amor que adoeceu. Amor e ódio são os dois mais
poderosos afetos da vontade humana, um é a sombra do outro, com o amor
construímos, com o ódio destruímos.
Muitas vezes o ódio é o amor camuflado, o amor doente e
vingativo, um amor que muda de cor dentro do mesmo coração. É o amor traído
procurando vingança. Neste caso o amor é o coração mole e ódio o coração
endurecido. (Doando Vida)
O amor está mais perto do ódio do que a gente geralmente supõe.
São o verso e o reverso da mesma moeda de paixão. O oposto do amor não é o
ódio, mas a indiferença... (Érico Veríssimo)
Se julgarmos o amor pela maior parte dos seus efeitos, ele
assemelha-se mais ao ódio do que à amizade. (François La Rochefoucauld)
Tudo é amor. Até o ódio, ao qual julgas ser a antítese do amor,
nada mais é senão o próprio amor que adoeceu gravemente. (Francisco C. Xavier)
Odiar é também uma forma de amar.
Diferente, mas é. É que o coração humano nem sempre consegue
identificar o sentimento que o move. É claro que existem situações em que o
ódio é ódio mesmo, mas, em outras, não.
Você já deve ter experimentado isso que estou dizendo. Sobretudo
no momento em que foi traído, enganado e até mesmo abandonado. O sentimento foi
de revolta e, nela, o amor muda de cor, configura-se diferente.
É a mesma coisa que acontece com os animais que se camuflam para
sobreviverem às ameaças dos inimigos. O camaleão é sempre camaleão, mesmo que
não possamos identificá-lo no seu disfarce. Da mesma forma fazemos nós.
Quando temos o nosso amor traído, ameaçado pelo descaso do
outro, nós nos revestimos de ódio e ressentimentos. Mas a fonte é sempre o
amor. Ele é o referencial de onde parte a nossa reação.
Nem sempre temos coragem de assumir isso. A traição nos trava
para a misericórdia. E, então, sentimos necessidade de devolver a ofensa com a
mesma moeda.
Por isso, dizemos que odiamos. Mas só o dizemos, porque o que
nos falta é coragem para dizer que amamos.
Camuflados e infelizes
Camuflar é o recurso que usamos com o objetivo de nos
justificarmos diante dos outros. É uma forma que temos de nos sentir menos
humilhados. Não raras vezes, dizer que temos ódio é uma maneira de tentar dar a
volta por cima. Estranho isso, mas acontece.
Talvez seja por isso que as pessoas andam tão distantes dos seus
verdadeiros sentimentos. Tememos a fraqueza. Tememos que o outro nos flagre no
sofrimento que a gratuidade do amor nos trouxe. Preferimos assumir uma postura
marcada pela agressividade a outra que nos mostrasse em nossa fragilidade.
Nos dias de hoje, cada vez mais, acentua-se a necessidade de ser
forte. Mas não há uma fórmula mágica que nos faça chegar à força sem que antes
tenhamos provado a fraqueza. E amar é experimentar a fraqueza. É provar o
doloroso campo da necessidade, da carência e da fragilidade.
Amar é uma forma de depender, de carecer e de implorar. É uma
forma de preenchimento de lacunas, visto que o amor é a melhor forma de
complementar os espaços.
Admirável desconcerto
Quem ama sabe disso. Quem é amado, também. A gratuidade do amor
consiste nisso. Amar quando o outro não merece ser amado. Surpresa maior não
há. Ser abraçado no momento em que sabemos não merecer ser perdoados.
O amor verdadeiro desconcerta. O perdão e a reconciliação são a
prova disso. Somente depois de dizermos infinitas vezes "Eu te
perdoo", é que temos o direito de dizer "Eu te amo". Porque,
antes do perdão, o que existe é admiração. Esse último sentimento não é o mesmo
que amar. Só amamos aqueles a quem perdoamos. E, geralmente, só odiamos aos que
amamos, caso contrário seríamos indiferentes.
Pena que tem sido cada vez mais difícil declarar amor no momento
em que o outro não merece. Não temos coragem de tomar essa atitude, porque ela
é chamada de fraqueza, coração mole. E, por medo de sermos vistos assim,
camuflamos o amor com as roupas do ódio.
Perdemos a oportunidade de atualizar a gratuidade do amor de
Deus na precariedade do amor humano e de surpreender o outro com nosso gesto já
transformado pela graça divina.
Na sua vida, não tenha medo de ser fraco, já que a fraqueza
representa capacidade de amar. Quando o outro, pelas mais diversas razões
esperar pelo seu ódio, surpreenda-o com o seu amor.
Desconcerte-o e, assim, você ajudará a consertar o mundo. (Padre
Fábio de Melo)
Sem amor por si mesmo, o amor pelos outros também não é
possível. O ódio por si mesmo é exatamente idêntico ao flagrante egoísmo e, no
final, conduz ao mesmo isolamento cruel e ao mesmo desespero. (Hermann Hesse)
E quem vence esta guerra dos sentimentos? Certamente aquele que
mais alimentarmos!
Abraços e muita paz!
Vida do amor ao ódio num segundo
Reviewed by Luís Eduardo Pirollo
on
novembro 18, 2015
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