A vida torna-se mais simples quando construímos o nosso castelo
amparado em alicerce real, baseado na simplicidade, no bom senso, no bom gosto,
no capricho e não nas ilusões mentais, aquelas que criamos ou inventamos para
comodidade do nosso ser. Tudo está baseado no estilo de vida que escolhemos
para nós, podemos escolher uma vida pautada na realidade e simplicidade ou
simplesmente tentar viver as ilusões criadas em nossas mentes, mas certamente,
um dia, tudo irá desabar.
O maior inimigo do conhecimento não é ignorância, mas a ilusão
do conhecimento. (Stephen Hawking)
A beleza ideal está na simplicidade calma e serena. (Johann
Goethe)
No caráter, na conduta, no estilo, em todas as coisas, a simplicidade
é a suprema virtude. (Henry W Longfellow)
O capricho da simplicidade
Bom gosto e mau gosto custam a mesma coisa, me disseram certa vez. Adotei a
frase como minha, tanto concordo com ela. Aliás, o mau gosto às vezes custa até
mais caro.
Eu estava numa grande loja, naquele esquema de "só estou
dando uma olhada", quando vi uma senhora se apossar de uma bolsa como se
tivesse encontrado o Santo Graal. Chamou a filha e mostrou: não é linda?
Agarrada à bolsa em frente ao espelho, ela virava de um lado, de outro,
extasiada com a própria imagem carregando aquela bolsa de couro azul turquesa
com umas 357 tachas pretas. Eu já vi bolsa feia nesta vida, mas como aquela,
nem nos meus pesadelos mais tiranos.
Mas a tal senhora estava apaixonada pela bolsa. Mostrava a
etiqueta com o preço para a filha e dizia: "E nem é tão cara!".
Nem é tão cara??? A loja deveria estender um tapete vermelho e
chamar banda de música para quem levasse aquele troço por R$ 5.
E a senhora voltava pro espelho, se olhava, levo ou não levo? Eu
tive vontade de cutucar o ombro dela e dizer pelamordedeus não faça essa
loucura, olhe em volta, tem bolsa muito mais bonita, com mais classe, mais
usável, deixe essa coisa medonha pra lá.
Claro que não me meti e saí da loja antes de ver a tragédia
consumada.
E então fiquei pensando nessa história de bom gosto e mau gosto,
classificação que os politicamente corretos rejeitam, dizendo que gosto cada um
tem o seu e fim de papo. Não é bem assim: a diferenciação existe. O que não
impede que pessoas de bom gosto errem, e pessoas de mau gosto acertem - de vez
em quando.
Cheguei em casa e fui reler um texto escrito por Celso
Sagastume, em que ele defende que bom gosto se aprende. Que uma pessoa começa a
gostar do que é bom quando adquire bagagem cultural (através de viagens e do acesso
à arte) e quando tem humildade para observar pessoas e lugares reconhecidamente
sofisticados e extrair deles a informação necessária para compor o seu próprio
bom gosto.
Sofisticação, no entanto, tem variadas interpretações. Eu não
troco uma charmosa bolsa de palha por uma Louis Vuitton e pode me chamar de
maluca. Nunca duvidei de que menos é mais, e acho que estou me saindo
razoavelmente bem, com uma porcentagem aceitável de deslizes.
Bom gosto e mau gosto custam a mesma coisa, me disseram certa vez.
Adotei a frase como minha, tanto concordo com ela. Aliás, o mau gosto às vezes
custa até mais caro. Ninguém precisa de muito dinheiro quando tem capricho e
noção.
Capricho para tornar sua casa confortável, alegre e preparada
não para uma foto ou uma festa, mas para ter história. Capricho para escrever
um e-mail mantendo certa diagramação e um português correto. Capricho ao se
vestir, deixando de se monitorar por grifes e valorizando mais o estilo.
Capricho é cuidado e atenção. Flores frescas nos vasos, unhas
limpas, música em volume adequado, educação ao falar, abajures em vez de luz
direta, um toque personalizado e uma pitada de bom humor em tudo: nas atitudes,
no visual, até na bagunça do escritório, que uma baguncinha também tem seu
charme.
Onde eu quero chegar com isso? Na bolsa azul turquesa com 357
tachas pretas que a gente carrega desnecessariamente por falta de treinar o
olho para as coisas mais simples. (Martha Medeiros)
O homem que é firme, paciente, simples, natural e tranquilo está
perto da virtude. (Confúcio)
O óbvio é aquilo que nunca é visto até que alguém o manifeste
com simplicidade. (Kahlil Gibran)
É curioso observar que quase todos os homens que valem muito têm
maneiras simples, e que quase sempre as maneiras simples são vistas como
indício de pouco valor. (Giacomo Leopardi)
Abraços e muita paz!
A vida e o castelo das ilusões mentais
Reviewed by Luís Eduardo Pirollo
on
agosto 23, 2014
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